Armando Negreiros – aafnegreiros@gmail.com
NATAL, OUTUBRO DE 2023
A Academia original foi uma escola fundada em 387 a.C., próxima a Atenas, pelo filósofo Platão. Nessa escola, dedicada às musas, se professava um ensino informal através de lições e diálogos entre os mestres e os discípulos. O filósofo pretendia reunir contribuições de diversos campos do saber como a filosofia, a matemática, a música, a astronomia e a legislação. Seus jovens seguidores dariam continuidade a esse trabalho que viria a se constituir num dos capítulos importantes da história do saber ocidental. A escola era formada de uma biblioteca, uma residência e um jardim. Pela tradição, esse jardim teria pertencido a Academus – herói ateniense da guerra de Tróia (século XII a.C.) e, por isso, era chamado de academia.
A Academia de Medicina do RN – AMRN é formatada no modelo da Academia Francesa, que foi fundada em 1635, por iniciativa do Cardeal Richelieu que obteve a autorização para seu funcionamento do rei Luís XIII, com a principal finalidade de tornar a língua francesa “pura, eloquente, e capaz de tratar das artes e ciências”. É composta por 40 titulares. Os primeiros ocupantes são os fundadores que escolhem os seus patronos. A AMRN começou com 17 membros em 1º de outubro de 1985, em 10 de junho de 1986 passou para 30 e finalmente em 28 de março de 1995 completou as 40 cadeiras.
Os 17 fundadores da Academia de Medicina do Rio Grande do Norte foram: Grácio Guerreiro Barbalho, Getúlio de Oliveira Sales, Dary de Assis Dantas, Joaquim Alves Fonseca, Carlos dos Santos Fonseca, Carlos César Formiga Ramos, Marcelo Augusto Filgueira de Carvalho, José Anchieta Ferreira da Silva, Genibaldo Barros, Cleone Noronha, Maria Giselda Silva Trigueiro, Airton Dantas Wanderley, Fernando Freire Lisboa, Aldo da Cunha Medeiros, Clovis Travassos Sarinho, Carlos Ernani Rosado Soares, Milton Ribeiro Dantas. Na ocasião são aclamados para constituírem a Comissão Organizadora Maria Giselda da Silva Trigueiro, Clovis Travassos Sarinho e Milton Ribeiro Dantas, na presença do Professor Geraldo Milton Siqueira, da Academia de Medicina da Bahia. Em 23 de dezembro de 1985 foi eleita a primeira diretoria: Maria Giselda da Silva Trigueiro – Presidente, Carlos Ernani Rosado Soares – Secretário, Carlos César Formiga Ramos – Tesoureiro.
Em 10 de junho de 1986 é aumentado o número de acadêmicos para 30: Helen Bilro Costa, Eudes Caldas Moura, Araken Irerê Pinto, Raul Fernandes, Onofre Lopes da Silva Júnior, Paulo Santiago Henriques Bittencourt, Paulo Frassineti Bezerra, Hiram Diogo Fernandes, Daladier Pessoa da Cunha Lima, Pedro Coelho da Silva, Celso Matias de Almeida, Leide Morais, Heriberto Ferreira Bezerra.
Em 28 de março de 1995 a Academia completa o seu quadro de 40 titulares elegendo mais dez acadêmicos, seguindo o modelo francês: Alexandre de Oliveira Sales, Ana Maria de Oliveira Ramos, Dinarte de Medeiros Mariz Junior, Fernando Ezequiel Fonseca, João Maria de Miranda Monte, José Medeiros Lima Junior, Joaquim Rubens Cunha, Rubens Santos Silva, Stênio Gomes da Silveira, Zita Souza Rocha. As cadeiras, numeradas de 1 a 40, possuem patronos que foram escolhidos em homenagem póstuma pelos primeiros ocupantes, ou seja, os fundadores. A numeração normalmente é feita pela ordem cronológica dos patronos.
Uma peculiaridade da AMRN é ter TRÊS fundadores que também são patronos. Quando houve aumento no número de titulares, esses fundadores já haviam falecido e foram escolhidos para patronos das novas cadeiras. Assim, a professora Giselda Trigueiro que foi fundadora da cadeira 11, hoje é a patrona da cadeira 32; o professor Clovis Travassos Sarinho, fundador da cadeira 15, hoje é o patrono da cadeira 31; o professor Milton Ribeiro Dantas, fundador da cadeira 17 é hoje o patrono da cadeira 37.
Ocorrendo vacância na categoria de sócio titular, o presidente, no prazo máximo de seis meses, declarará abertas as inscrições, através de edital, do qual será dada plena divulgação.
O prazo para inscrições é de sessenta dias, prorrogável por igual período, não havendo candidato. Ao contrário do que muita gente pensa, não existe convite da Academia para o ingresso do acadêmico. Este tem que se candidatar e ser eleito por maioria absoluta. É um exercício de humildade, pois há que pedir o voto a cada um dos acadêmicos e se submeter ao resultado da apuração.
São necessários alguns requisitos que constam do Estatuto e Regimento Interno. A eleição de membros titulares ocorrerá em Assembleia Geral, por voto secreto. Para a eleição de membros de qualquer categoria é necessária a presença de 2/3 (dois terços) dos membros titulares aptos a votar.
Se houver mais de um candidato por cadeira e nenhum deles lograr maioria absoluta dos votos, dos titulares aptos a votar, proceder-se-á, imediatamente, o segundo escrutínio, entre os dois mais votados, ou entre aqueles colocados em igualdade de condições. Na hipótese de empate no segundo lugar, o mais idoso será o escolhido para disputar o segundo escrutínio. Caso nenhum dos dois candidatos consiga a maioria absoluta (mais da metade dos aptos a votar), haverá um terceiro e último escrutínio. Caso persista a não obtenção da maioria absoluta dos titulares aptos, por nenhum dos dois candidatos, o Presidente abrirá novamente as inscrições para a mesma vaga, de acordo com o Estatuto.
Há três formas do acadêmico deixar a academia: por morte, por renúncia e por expulsão. Em 2012, houve mudança no Estatuto e Regimento permitindo ao acadêmico que está impedido, por motivo de saúde, de frequentar a Academia passar para Membro Emérito, voluntariamente. Nessa qualidade o colega será informado de todos os eventos e terá livre acesso às sessões que desejar comparecer, além de ficar desobrigado da anuidade. Viemos saber posteriormente que esse dispositivo existe também no Vaticano e foi utilizado por Bento XVI, Joseph Ratzinger.
Nesses 37 anos de existência da Academia de Medicina do RN (de 1º de outubro de 1985 até a presente data – novembro de 2022) 77 médicos foram eleitos acadêmicos.
Numa época em que se fala tanto em questões de gênero e feminismo, vale a pena relembrar um pouco sobre a participação das mulheres nas Academias, já que sempre nos referimos que seguimos o modelo francês. Nesse aspecto a Academia Brasileira de Letras antecipou-se em 3 anos à Academia Francesa e a nossa Academia Norte-rio-grandense de Letras em 41 anos à Academia Brasileira, pois na sua fundação em 1936 já tínhamos a participação de duas mulheres: Palmira e Carolina Wanderley. A nossa Academia de medicina, fundada em 1985, teve como primeira presidente uma mulher, a Professora Giselda Trigueiro e atualmente tem 7 mulheres no seu quadro.
Durante as primeiras oito décadas de existência da Academia Brasileira de Letras, nenhuma mulher fez parte da instituição. Até 1951, o Estatuto da ABL previa que apenas “brasileiros que tenham, em qualquer dos gêneros de literatura, publicado obras de reconhecido mérito ou, fora desses gêneros, livro de valor literário” poderiam concorrer a uma de suas cadeiras. Quando da primeira candidatura feminina, em 1930, Amélia Beviláqua foi rejeitada, sob a justificativa de que o vocábulo “brasileiros” restringiria suas vagas apenas ao sexo masculino, ficou claro que a Academia relacionava valor literário a gênero.
Já no início dos anos 50, o Regimento Interno atesta de fato a impossibilidade de elegibilidade feminina e altera o artigo para “os membros efetivos serão eleitos, dentre os brasileiros, do sexo masculino”, deixando mais claro ainda a prerrogativa machista. A segunda mulher a tentar participar do círculo de literatos imortais foi Dinah Silveira Queiroz, cuja candidatura também foi rejeitada. Apenas em 1977 a instituição discutiu novamente a questão da mulher na Academia, para dar parecer favorável a Rachel de Queiroz.
Além de Rachel de Queiroz, a partir dos anos setenta, outras mulheres ocuparam cadeiras na ABL. Em 1980, foi a vez de Dinah Silveira de Queiroz, que já tinha sido candidata anteriormente. A terceira mulher a ser membro foi a escritora Lygia Fagundes Telles, em 1985; em seguida, Nélida Piñon, em 1989; Zélia Gattai, em 2001; Ana Maria Machado, em 2003; Cleonice Berardinelli, em 2009; e por fim, Rosiska Darcy, em 2013.
Marguerite Yourcenar foi a primeira mulher eleita à Academia Francesa de Letras, em 1980, após uma campanha e apoio ativos de Jean d’Ormesson, que escreveu o discurso de sua admissão.
Eram essas as considerações que tínhamos a fazer e homenageio todos os fundadores e sucessores da nossa querida Academia de Medicina, que se reúne todas as primeiras terças-feiras de cada mês, sempre levando um convidado para proferir palestra em sua sede própria na Rua Ângelo Varela e tem cumprido, na medida do possível, a finalidade de divulgar o conhecimento e o saber em todos os campos da ciência e da arte.
Muito obrigado.
Na página “Membros” você poderá saber mais sobre os ocupantes atuais
PATRONO | FUNDADOR | SUCESSOR | OCUPANTE ATUAL |
---|---|---|---|
1 – Creso Bezerra de Melo | Grácio Guerreiro Barbalho | Emilia Maria Trigueiro Morais de Paiva | |
2 – Abelardo Calafange | Getúlio de Oliveira Sales | Selma Maria Bezerra Jerônimo | |
3 – José Augusto Varela | Dari de Assis Dantas | Aílson Guedes da Silva | |
4 – Olavo Silva de Medeiros | Joaquim Alves da Fonseca (Resignatário) | Jahyr Navarro da Costa | |
5 – Pedro Soares de Araújo Amorim | Carlos dos Santos Fonseca | Carlos dos Santos Fonseca | |
6 – Ovídio Fernandes de Oliveira | Carlos César Formiga Ramos | Francisco Edílson Leite Pinto Júnior (Resignatário) | Maria Sanali Moura de Oliveira Paiva |
7 – Antônio Filgueira Filho | Marcello Augusto Filgueira de Carvalho (Emérito) | Luís Eduardo Barbalho de Mello | |
8 – Adolfo Ramires | José de Anchieta Ferreira da Silva (Emérito) | Geraldo Emanuel de Medeiros Furtado (Emérito) | Roberto Vital |
9 – Mariano Coelho | Genibaldo Barros | Genibaldo Barros | |
10 – Januário Cicco | Cleone Noronha | Julião Bezerra | |
11 – Francisco Xavier Soares Olavo Montenegro | Maria Giselda da Silva Trigueiro | José Rubens Marcondes de Aguiar | José Melquisedec da Costa Ferreira |
12 – Luiz Antonio Ferreira Souto dos Santos Lima | Airton Dantas Wanderley | Airton Dantas Wanderley | |
13 – Aderbal de Figueiredo | Fernando Freire Lisboa (Resignatário) | Fernando José Pinto de Paiva | |
14 – Dalton Barbosa Cunha | Aldo da Cunha Medeiros (Resignatário) | Henrique Eduardo Macedo Fonseca | |
15 – Manoel Varela Santiago Sobrinho | Clovis Travassos Sarinho | Maciel de Oliveira Matias | |
16 – Jeronymo Rosado Filho | Carlos Ernani Rosado Soares | Edson Gutemberg de Sousa | |
17 – Francisco Pinheiro de Almeida Castro | Milton Ribeiro Dantas | Munir Massud (Resignatário) | Carlos Alexandre de Amorim Garcia |
18 – Francisco Teódulo Avelino | Hellen Bilro da Costa (Emérito) | Albanita Leite Soares de Macedo | |
19 – Emílio Salem Filho | Eudes Caldas Moura (Emérito) | Luiz Gonzaga Bulhões | Ivo Barreto de Medeiros |
20 – João Juvenal Barbosa Tinoco Filho | Araken Irerê Pinto | Kleber de Melo Morais | |
21 – Manoel Villar Raposo de Mello | Raul Fernandes | Gley Nogueira Fernandes Gurjão | VAGA |
22 – Onofre Lopes da Silva | Onofre Lopes da Silva Júnior (Emérito) | Elio José Silveira da Silva Barreto | |
23 – Ernani Cicco | Paulo Santiago Henriques Bittencourt | Olímpio Maciel (Emérito) | Carlos Alberto Almeida de Araújo |
24 – Odilon Guedes da Silva | Paulo Frassinete Bezerra | Eduardo Afonso Júnior | |
25 – Múcio Galvão de Oliveira | Hiram Diogo Fernandes (Resignatário) | Maria Zélia Fernandes | |
26 – Celso Augusto Santiago Caldas Filho | Daladier Pessoa Cunha Lima | Daladier Pessoa Cunha Lima | |
27 – João da Costa Machado | Pedro Coelho da Silva | Ney Marques Fonseca | |
28 – Antonio Osório Ramalho | Celso Matias de Almeida | Celso Matias de Almeida | |
29 – Antonio Soares Júnior | Leide Morais | Ivis Alberto Lourenço Bezerra de Andrade (Emérito) | VAGA |
30 – Ernesto Emílio da Fonseca | Heriberto Ferreira Bezerra | Damião Nobre de Medeiros | |
31 – Clovis Travassos Sarinho | Alexandre de Oliveira Sales | Alexandre de Oliveira Sales | |
32 – Maria Giselda da Silva Trigueiro | Ana Maria de Oliveira Ramos | Ana Maria de Oliveira Ramos | |
33 – Ruy de Medeiros Mariz | Dinarte de Medeiros Mariz Júnior | Murilo Celeste Barros | |
34 – Ezequiel Epaminondas da Fonseca Filho | Fernando Ezequiel Fonseca | Jeancarlo Fernandes Cavalcante | |
35 – Paulo Sobral | João Maria de Miranda Monte | Marcos Alfredo Queiroz do Amaral | |
36 – João Jerônimo Cabral Fagundes Neto | José de Medeiros Lima Júnior (Resignatário) | Armando Aurélio Fernandes de Negreiros | |
37 – Milton Ribeiro Dantas | Joaquim Rubens da Cunha | Gutenberg do Amaral Gurgel | |
38 – José Tavares da Silva | Rubens dos Santos Silva (Resignatário) | Pedro de Oliveira Cavalcanti Filho | |
39 – José Ivo Moreira Cavalcanti | Stênio Gomes da Silveira | Stênio Gomes da Silveira | |
40 – Silvino Lamartine de Faria | Zita de Souza Rocha | Zita de Souza Rocha |
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